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Bebê "high need" existe ?

A ideia de falar sobre o assunto veio da minha indignação em acompanhar uma saraivada de invalidação da queixa de uma mãe apresentada por uma das profissionais de saúde de grupo de Whatsapp.


mãe com bebê chorando no colo

Para contextualizar, esse grupo pertence a um espaço de atendimento que se posiciona como acolhedor para trocas sobre saúde da criança. No grupo temos profissionais como: pediatras, psicólogas, educadoras parentais, consultoras de amamentação/sono, entre outros - todas muito competentes, palestrantes e com alguma relevância nas redes sociais.



Porém, a sequência de mensagens que seguiu o pedido de informação da colega sobre bebê "high need" me atingiu como uma flecha - uma fala atrás da outra apresentando suas certezas, desconsiderando qualquer possibilidade de investigação, emojis de risadas e nenhum acolhimento.

Eu sei que está difícil trabalhar com a parentalidade tão submetida a ruídos que fazem com que os pais busquem diagnósticos para explicar algo que está dentro do esperado, mas a falta de considerar o relato dessa mãe me fez lembrar o que passei e, poderia ter sido evitado, se alguém tivesse olhado além das suas certezas.

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Por isso, segue ai uma breve pesquisa sobre o assunto que talvez ajude a clarear as ideias.

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O que é mito, o que é realidade e quando buscar ajuda

Nos últimos anos, o termo high need baby ou “bebê de alta demanda” tem aparecido com frequência em posts e vídeos. Ele descreve aquele bebê que parece precisar de atenção constante: chora muito, acorda várias vezes à noite, quer estar no colo o tempo todo, reage com intensidade a mudanças e barulhos. Não é um diagnóstico médico, mas uma forma popular de falar sobre um perfil de temperamento mais intenso.

E aqui já vale o primeiro ponto: intensidade não significa “problema” e, ao mesmo tempo, também não significa que seja “só uma fase” em todos os casos.

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Quando é só questão de expectativa (e tudo bem)

Cada bebê nasce com um jeito próprio, fruto de sua biologia e das experiências iniciais. Alguns são naturalmente mais tranquilos, outros são mais alertas, sensíveis e pedem mais colo. Isso pode ser apenas variação normal de temperamento. O desafio é que, no puerpério, nossas expectativas nem sempre estão alinhadas à realidade e aí vem a frustração.

Se você esperava um bebê que dormisse longas horas sozinho, mas recebeu um bebê que acorda com qualquer ruído e quer mamar em intervalos curtos, é natural sentir-se exausta e até pensar que algo está errado. Nessas horas, ajustar o olhar para as necessidades reais daquele bebê pode reduzir muito a ansiedade.

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Quando vale investigar mais a fundo

Nem todo bebê intenso é apenas “de temperamento forte”. Às vezes, o que parece ser “alta demanda” pode estar mascarando desconforto ou dor, como:

  • refluxo gastroesofágico,

  • alergias ou intolerâncias alimentares,

  • otite ou infecções recorrentes,

  • dificuldades na sucção ou pega.

E, em outros casos, pode haver traços iniciais de neurodivergência (como autismo, TDAH ou altas habilidades/superdotação), que só vão ficar claros com o tempo, mas que já se manifestam em forma de sensibilidade sensorial, necessidade intensa de estímulo ou dificuldade para se autorregular.

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O peso dos ruídos (e do algoritmo)

Hoje, pais e mães recebem um bombardeio de informações, muitas vezes contraditórias, pelas redes sociais. No puerpério, quando estamos mais vulneráveis, isso pode nos deixar ainda mais inseguros. De um lado, conteúdos que romantizam e dizem “apenas curta seu bebê, tudo é normal”. De outro, vídeos alarmistas sugerindo diagnósticos graves a cada sinal diferente. No meio desse barulho, fica difícil ouvir o que realmente importa: o seu instinto e a observação diária que você faz do seu filho.

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Um relato pessoal

Eu mesma já estive nesse lugar.

Fui uma mãe que, por falta de escuta e validação dos profissionais que consultei, levou quase 10 anos para encontrar alguém que visse o que eu via na minha filha. Sempre senti que, por trás desse rótulo de “criança difícil”, existia algo mais.

Eu sabia que havia algo além do que diziam ser “normal”, mas por muito tempo me senti inadequada, como se estivesse exagerando ou criando problemas onde não havia. Até que, finalmente, encontrei um olhar que uniu acolhimento e investigação.

Mas a demora na identificação da Altas Habilidades/Superdotação (AHSD) — e em entendê-la como uma neurodivergência — trouxe repercussões que poderiam ter sido evitadas. No ambiente escolar, isso significou anos de expectativas desalinhadas: ora subestimando seu potencial, ora cobrando comportamentos sem oferecer estímulos adequados. A consequência foi uma sensação de não-pertencimento, somada a dificuldades de socialização e à frustração por não se encaixar nos padrões esperados.

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Escuta, validação e acompanhamento

Por isso, minha mensagem para você é:

  • Confie na sua observação. Você é quem mais convive com seu bebê.

  • Busque profissionais que te escutem de verdade. Acolhimento não significa descartar investigação, e investigação não precisa excluir acolhimento.

  • Mantenha um olhar atento, mas não ansioso. Nem todo comportamento intenso é sinal de algo grave, mas também não precisa ser minimizado se estiver te preocupando.

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O papel dos profissionais que acompanham é identificar qual é o caso, oferecer suporte e respeitar a singularidade de cada criança.

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Espero que essa leitura tenha colaborado para acalmar seu coração.

Com carinho

Adriana

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