Meu maternar atípico
- ftadriana
- 11 de ago.
- 3 min de leitura
Atualizado: 15 de ago.
Superdotação: uma forma de existir, não um troféu a ser exibido

Faz tempo que estou ensaiando esse post. Enquanto fazia alguma menção sobre o assunto nas redes sociais notei algum engajamento, talvez de pessoas que compartilhassem vivências de uma maternar atípico como eu.
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Sempre evitei usar a palavra "superdotação" para falar da Bel.
Ela parecia grande demais, carregada de estereótipos, expectativas e julgamentos.
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Afinal, o que as pessoas pensariam?
Que eu queria me exibir?
Que buscava privilégios para ela?
Que estava confundindo intensidade com talento precoce?
Mas a verdade é que, aqui em casa, a superdotação nunca teve o brilho que se imagina.
A "facilidade" escolar gerou rótulos difíceis de sustentar e a diferença de interesses criou barreiras na socialização. Apareceu, isso sim, a sensibilidade que transbordava e o sentimento constante de não pertencimento.
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Os profissionais que buscamos para nos dar apoio talvez fossem tão desinformados quanto nós e, na escola, apesar de ser evidente a diferença no ritmo/forma de aprendizado, o que incomodava era a suposta "timidez" e falta de habilidade social.
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Foi só mais tarde, quando já me sentia esgotada de procurar respostas isoladamente, que encontrei profissionais que enxergavam o que eu via, mas ainda não sabia nomear. Com eles, entendi que minha filha não era uma exceção sortuda. Ela era uma criança neurodivergente, com um funcionamento muito próprio.
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Uma menina intensa, criativa, amorosa — e muitas vezes incompreendida.
Minha filha não é "além da média" no sentido competitivo da expressão.
Ela é diferente na forma de perceber, sentir e existir no mundo.
Isso é o que define a superdotação. Não o desempenho. Não o QI. Não o talento visível.
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Superdotação como neurodivergência
Hoje sei que a superdotação tem origem genética e neurológica. Que existe um cérebro por trás dessa forma de estar no mundo — um cérebro rápido, sensível, faminto por sentido. Mas isso não vem sem custo. Essa intensidade toda pode gerar sofrimento: crises de ansiedade, isolamento social, esgotamento emocional.
Há também uma distância difícil de explicar entre o que a criança sente por dentro e o que o mundo espera dela.
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O impacto para as famílias
Como mãe, vivi (e ainda vivo) uma mistura de encantamento e solidão.
Não há muitos espaços seguros para dizer: “Meu filho é superdotado”, sem que isso soe como vaidade, exagero ou desejo de vantagem. Mas o que a gente quer, no fundo, é só acolhimento.
Queremos poder falar das crises, das perguntas sem fim, da dificuldade em encontrar escolas que compreendam nossos filhos como eles são.
Queremos companhia, pertencimento.
Falar sobre superdotação, pra mim, virou uma forma de abrir caminhos, porque sei que outras mães, como eu, estão aí, espalhadas, quietas, tentando entender o que se passa com seus filhos e consigo mesmas.
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Adaptações escolares: uma necessidade, não um privilégio
A escola foi (e ainda é) um desafio.
Minha filha nem sempre se encaixa no ritmo da sala, no conteúdo proposto, no modo como as aulas acontecem. Ela precisa de estímulos diferentes, de espaço para criar, de conversas que desafiem e, ao mesmo tempo, de suporte emocional.
Muitas pessoas pensam que adaptar é dar "mais". Mas, na verdade, adaptar é reconhecer o diferente e garantir o essencial. Flexibilizar o currículo, permitir projetos autorais, cuidar das relações com os colegas — tudo isso faz parte de uma educação inclusiva de verdade.
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Essas adaptações não são mimos. São direitos.
E quando bem feitas, beneficiam não só a criança superdotada, mas todo o ambiente escolar.
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Espero que esse texto encontre quem precise ouvir: "você não está sozinha e estou aqui se quiser conversar".
Beijos com carinho
Adriana

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